quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

3 - Sou muito novo pra virar um fanático e perder tudo que o mundo tem de bom

Sim, a vida é curta. Curta demais, principalmente se confrontada com a realidade da eternidade.

Temos basicamente duas opções para acreditar: ou Deus existe ou não existe. Da primeira, temos a opção de alinha-lo aos fenômenos naturais, remover d´Ele qualquer traço de intenção ou propósito, tornando-O para nossa inteligibilidade e sinestesia, uma mera força motora lógica e criativa que gera o universo. Nesse caso, é o mesmo que escolher a segunda opção, para conclusões práticas. Sejamos práticos, pois é isso que interessa para muitos.
Caso Ele exista, e seja uma entidade fenomenológica natural, em que o humano é apenas uma faísca ao acaso fluindo num processo despojado de teleologia, o resultado da história particular de cada um encontrará conclusão no nada absoluto, a morte. Simplesmente deixar de existir. Resultado da função: zero, NaN, undefined, false. Suas partículas se espalharão pelo universo, voltando para a natureza. Mas você com certeza encontrará o zero nessa transição, e não vai estar por aí pensando "que legal, minha mão é uma flor e o meu pé virou uma núvem", num ciclo suave de perda de identidade até a diluição absoluta.
Caso Ele não exista, a consequência é a mesma do pressuposto anterior.

Mas caso Ele exista e tenha um propósito com a sua existência humana, a qual você costuma atribuir valor zero para o universo, o resultado dessa função é o índice 1 (o absoluto, o concreto, o válido, o true, Integer,  se você preferir).

Dessas duas escolhas básicas, ou você escolhe a possibilidade 1 ou 0. Pensando friamente, é muito estranho que as pessoas que pensam ter um raciocínio absolutamente lógico escolham o resultado certo igual a zero, e não a probabilidade de 1. Mesmo porque, depois que você morrer, se não houver nada mesmo, você também não perdeu nada, mesmo que tenha passado a vida toda como um fanático enlouquecido. Nem mesmo sua dignidade, e de nada teria servido sua auto-estima ou seu orgulho científico, ou sua curtição, nem todo o prazer que desfrutou: o resultado é ZERO.

A outra opção parece bem mais interessante: a probabilidade mesmo remota de 1 é muito mais válida matematicamente que zero, e só um imbecil escolheria a anterior. Um exemplo pra quem ainda não conseguiu entender: você está num prédio, ele vai desabar, você tem duas saídas: em uma você pode sobreviver, na outra você tem certeza absoluta que vai morrer. Qual você escolhe?
Agora considere o seguinte: caso Deus exista e não espere nada de você, que Ele esteja a despeito de sua presença, mais ocupado com as órbitas das galáxias e com o ciclo do tempo, os fluxos de wormholes e gravidades através da matéria escura do universo, a conclusão após a sua morte é a mesma que se supor que Ele não existe: chegamos ao mesmo resultado zero absoluto. Afinal de contas, se Ele não está nem aí pra você nessa porcaria de mundo de fardos e sofrimentos, porque lhe daria o paraíso ou o inferno sem um desenvolvimento de causa e consequência? 

Sendo assim, a escolha mais inteligente e com maior probabilidade de utilidade e aproveitamento do resultado é a de que Ele existe, e tem alguma coisa com você. E agora, seguindo novamente a natureza da causa-consequência e equilíbrio das forças atuantes, com pressuposto de que para toda causa há uma consequência, e de que para toda situação há necessariamente uma causa anterior, e se considerando válido que a manifestação química "felicidade" ou "desgraça" são eventos reais e que estão encadeados em processos contínuos, a proposta reencarnacionista parece ser absolutamente lógica e razoável. Por outros motivos, e após anos sendo espírita, abandonei essa pressuposta "verdade lógica". Mas o ponto importante aqui em desenvolvimento é o fato de que a história do ser humano, em sua individualidade, leva a um resultado, e é inteligente que se espere que ele será considerado após a morte.

Estou sobrepondo escolhas: a primeira, de que Deus existe, por ser a mais inteligente. A segunda, de que a conduta é um fenômeno válido nos "cálculos naturais da realidade" e portanto participa do devir. 

Claro: posso escolher passar a vida a remover aquela montanha com minhas próprias unhas. Então como uma escolha pode alterar a realidade material sem ser válida? O elemento zero em qualquer função pode levar a um resultado igual a zero. Portanto, a conduta e a moral são elementos presentes na composição do real, e tem consequências sobre a matéria. Parece óbvio, mas muita gente faz força pra acreditar no contrário.

Neste campo, o problema parece residir na confusão que há entre a busca pela felicidade e a busca pelo prazer, seu e dos outros. E principalmente, na linha de pensamento reducionista e maquiavélica que justifica as escolhas; Sobre a felicidade com ou sem religião, vale ler Platão e outros filósofos muito elucidativos. 

Então, a última coisa que eu defendo é a ausência de felicidade: sim, seja feliz, muito feliz! Mas não confunda isto com egoísmo, visão obtusa, vício, infelicidade alheia, isolamento e tantos fatores que tornam essa felicidade um problema no futuro.

E não cabe aqui discutir o caos e a imprevisibilidade do devir: sua intenção é que vai te garantir o resultado, independente do rumo que as coisas tomaram. Acredite, é diferente. 

3 comentários:

  1. "a probabilidade mesmo remota de 1 é muito mais válida matematicamente que zero"

    Podes explicar porquê?

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  2. E o que o amigo superimportante para o criador do Universo (ou multiversos...) gostaria que acontecesse? que Ele se apresentasse na forma de um velho barbudo implorando pra ser adorado? Com certeza isso está completamente fora da probabilidade dos dados, e dos experimentos. "Quem criou os olhos não vê? o umbigo dos que desejam fortemente que não seja Deus o dono do mundo não tem outro nome que não seja anticristo, ou melhor dizendo, anti-divindade. Se não desejasse tanto que não fosse assim, não haveria essa luta contra a existência dEle. Quando você morrer, você vai descobrir se passou uma vida com esperança zero ou se vai pagar o preço...

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  3. http://meudeusearazao.blogspot.com/

    Que pena desse sujeito. Caiu na primeira armadilha armada, mais óbvia de todas. Totalmente desinformado, e fácil de ser dobrado. E quem somos nós pra questionar a justiça de Deus? Quem somos? Que condição temos para julgar a Deus?

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